segunda-feira, janeiro 09, 2006

A minha rua em Alfama




















Quando se entra na rua vê-se um azulejo na parede que diz 1º Prémio da rua mais florida em 1987. Presumo que seja mais uma daquelas iniciativas à volta do Santo António, que naquele bairro é vivido de uma forma quase visceral. Nunca vivi ali muito tempo e posso dizer que a casa me deu já bastantes dores de cabeça. Já me passou de tudo: infiltrações para a vizinha de baixo, infiltrações no telhado, explosão de um esquentador, obras de remendos e obras gerais. Foi o meu primeiro cantinho. Comprei-o em 1999. Entrei para os quadros da Função Pública, fiquei a receber mais dinheiro e decidi investir em termos pessoais e em termos financeiros numa casa. Na verdade acho que até agora não ganhei lá muito... Foi uma compra também feita com o coração. Lembro-me como se fosse ontem. Abri o jornal e reparei no anúncio de venda desta casa que custava aquilo que eu podia pagar, era no bairro que eu queria e tinha a tão falada vista! Telefonei. Fui vê-la e decidi comprá-la sem ter visto mais nenhuma. Para quê?
Anos mais tarde descobri uma fotografia em que apareço eu na que viria a ser a minha rua (provavelmente na minha primeira visita a Alfama) e em que me lembro de ter pensado que quando fosse grande gostaria de morar ali.
Continuo a pensar que Alfama é dos bairros mais bonitos do mundo que eu conheço. E também dos mais difíceis. As suas idiossincracias farão com que seja sempre habitada por velhos, jovens, emigrantes, casais sem cheta. Que família da classe média vai viver para ali? Não existem garagens nem elevadores. Já para não falar em questões ligadas à Protecção Civil...
Se fosse muito rica acho que me entretinha a comprar casas velhas de Alfama e a reconstrui-las. Dói o coração ver aquelas casas a cair. Outra conversa são os cromos que lá vivem. Os carteiristas do 28, 15 e 18. A vizinha Odete que cola na sua porta fotografias do Papa, na Nossa Senhora de Fátima e dos três Pastorinhos. O Miguel que deve ser um puto ali da rua ao lado que tem uma mãe insuportável que me furava os tímpanos a gritar: "Óhhhhhhhhhhhhhhhhhh Migueeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!", todo o dia. A amante do GNR que vive na casa em frente. O geninho do r/c que se corta a pagar o condomínio. Os trolhas bimbos de bigode e armados ao pingarelho. O emigrante em Andorra brutamontes filho da D. Odete que só vem cá à casa da mãe para os putos terem praia. Enfim, aquele bairro dava um filme.

5 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Também podia ser a "Janela indiscreta" um dos meus filmes preferidos!

olha tu ai na janelita a cuscar... ;)

11:10 da manhã  
Blogger Unknown disse...

Que bairro lindo! É um daqueles "ecosistemas" cheio de cromos, ehehehe.

A foto está muito fixe.

Bjs

3:22 da tarde  
Blogger MA disse...

Gosto da tua casa na foto e também gostei muito de visitá-la in loco.
Aprecio bastante essa zona da cidade...estudei algum tempo lá e adorava embrenhar-me naquele labirinto de ruas estreitas, becos sem saída, passagens secretas por entre os lençois nos estendais, as paredes de caixas de fruta empilhadas nas mercearias de bairro, as tascas, as escadarias e sempre, em qualquer direcção, aquela omnipresente nesga do tejo lá ao fundo.
Mas olha que nestas incursões não vi só "velhos, jovens, emigrantes, casais sem cheta"...a classe média e a alta está lá e em força. Pelas janelas de algumas casas recuperadas com requinte, via-se bem os quadros dos consagrados, as fartas bibliotecas, a classe. Para não falar dos luxuosos gabinetes de arquitectos, ateliers de artistas, etc... há de tudo... um verdadeiro viveiro da mais variada fauna.

;-)

9:07 da tarde  
Blogger Horas Vagas disse...

ISSO AGORA NÃO INTERESSA NADA...
Quando vamos ao Ikea? Estou tãããõooo sozinha... A baixa tem destas coisas menos positivas!! E sem carro, que o bacano não levou o outro à revisão! SNIFFF!
QUANDO VAMOS AO IKEAAAAA
Beijinhos

9:12 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Eu também adoro esse bairro e essa casa, que até já me deu muito jeito numas férias que aí passei.
O Bairro tem aquela magia das ruas estreitas e de começarmos a explorá-las sem saber bem o que vamos encontrar na ruazinha que se segue...

Obrigado

Nani

11:59 da manhã  

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