A agulha, o helicóptero e o ninho
Toda a minha vida ouvi falar do Hospital de Santa Maria. Até aos trinta e poucos nunca tinha precisado de ir lá como doente. Fui há pouco tempo. Retenho do monstro a sensação de uma agulha, o som de um helicóptero e a visão de um ninho. No meio de alguma ansiedade e preocupação passei trinta minutos deitada numa cama a repousar depois de ter sido picada por uma agulha que me retirou líquido amniótico. Coisa estranha mas que fisicamente não me provocou dor nenhuma. Depois desse momento tive meia hora para repousar. Tive tempo para tudo. Para ver o futuro à minha frente e para ver a vida a andar para trás. No meio disso tudo comecei a ouvir cada vez melhor o som característico de um helicóptero a aproximar-se. Pensei: quem quer que seja que venha dentro deste aparelho está pior que eu. Eu só estou preocupada. O helicóptero deve ter aterrado porque o deixei de ouvir. Voltei aos meus pensamentos e comecei a ouvir naquele silêncio de hospital um barulhinho bom. Era o som de um piar muito baixinho de pássaro. Olhei para as vidraças, e percebi que não estava sozinha, lá bem no cantinho percebi que uma passarinha tinha construído o ninho para os seus filhotes que esperavam que a mãe lhes trouxesse mais comida. Percebi que no meio daquela monstruosidade, o Hospital respirava vida. Não sei porquê saí dali muito mais calma do que estava à espera.
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