O meu avô Cardoso
Para além dos meus pais, obviamente, um dos familiares que mais me marcou foi o meu avô Cardoso. Digo “um dos” porque algum dia irei escrever também sobre o meu tio D., mas se calhar é preciso passar mais tempo sobre o seu desaparecimento.
Antes de mais, o meu avô Cardoso era também conhecido por mim como o meu avô Bêbado. Apanhava uma bebedeira no dia 1 de Janeiro e ia esticando-a até ao 31 de Dezembro desse ano. Depois tratava de arranjar outra para a substituir. Não era difícil. Até aos anos 70 ele próprio tinha uma taberna, que teve de fechar pelas razões óbvias, e depois vivia numa aldeia em que os dois únicos estabelecimentos comerciais eram tascas…
Morreu no primeiro dia de aulas do meu 1º ano do ciclo, tinha eu 11 anos. Lembro-me como se fosse hoje. A nossa vizinha do 1º andar tinha telefone e subiu as escadas para ir dizer isso à minha mãe. A minha mãe chorou, apesar de lhe ter muitas coisas a apontar. Eu cá não. Sempre foi um avô super meiguinho e sempre me chamou de “netinha”. Mesmo quando estava com um grão na asa e me decidia treinar com perguntas e respostas ao estilo “Quem quer ser milionário” para não dizer Trivial Porsuit. A sua área preferida era a Geografia. Talvez por isso ainda hoje eu tenha um fascínio por viagens, atlas e mapas.
Mas acho que o que ele me pegou foi a vontade de saber sempre mais sobre uma série de coisas, custasse o que custasse. É com orgulho que sei que ele próprio aprendeu a ler e a escrever sozinho só de olhar para os livros e de dar uma vista de olhos naquilo que os próprios filhos aprendiam. E, os seus quatro filhos foram um caso de sucesso escolar… apesar de serem fruto do seu tempo. As filhas só puderam estudar até à 4ª classe mas sempre foram as melhores do concelho. Um dos filhos veio para Lisboa e fez três anos num acabando por ser economista e o outro apesar de ter sido obrigado a deixar de estudar acabou por, com uma vontade de ferro, ter “aproveitado” para voltar a estudar quando ficou desempregando vindo a tirar um 12º ano com um vinte a matemática e acabando contra tudo e contra todos gestão.
O meu avô, contasse, que também era um construtor exímio de bandolins, carroças, grande produtor de belas laranjas e inventor de árvores que davam de um lado laranjas e do outro limões! Para além disso, recordo-me como se fosse ontem, de o ter visto matar à minha frente uma cobra!
No meio disto tudo foi destruído pelo álcool. Sempre me perguntei porquê. Agora já adulta penso que se calhar era porque gostava simplesmente de ficar bêbado. Mas também acho que o foi porque não poderia ter sido outra coisa. Nasceu e cresceu num tempo e num lugar lixados. Penso, sinceramente, que lhe servia de refúgio contra uma existência demasiado pobre para as suas potencialidades.
Antes de mais, o meu avô Cardoso era também conhecido por mim como o meu avô Bêbado. Apanhava uma bebedeira no dia 1 de Janeiro e ia esticando-a até ao 31 de Dezembro desse ano. Depois tratava de arranjar outra para a substituir. Não era difícil. Até aos anos 70 ele próprio tinha uma taberna, que teve de fechar pelas razões óbvias, e depois vivia numa aldeia em que os dois únicos estabelecimentos comerciais eram tascas…
Morreu no primeiro dia de aulas do meu 1º ano do ciclo, tinha eu 11 anos. Lembro-me como se fosse hoje. A nossa vizinha do 1º andar tinha telefone e subiu as escadas para ir dizer isso à minha mãe. A minha mãe chorou, apesar de lhe ter muitas coisas a apontar. Eu cá não. Sempre foi um avô super meiguinho e sempre me chamou de “netinha”. Mesmo quando estava com um grão na asa e me decidia treinar com perguntas e respostas ao estilo “Quem quer ser milionário” para não dizer Trivial Porsuit. A sua área preferida era a Geografia. Talvez por isso ainda hoje eu tenha um fascínio por viagens, atlas e mapas.
Mas acho que o que ele me pegou foi a vontade de saber sempre mais sobre uma série de coisas, custasse o que custasse. É com orgulho que sei que ele próprio aprendeu a ler e a escrever sozinho só de olhar para os livros e de dar uma vista de olhos naquilo que os próprios filhos aprendiam. E, os seus quatro filhos foram um caso de sucesso escolar… apesar de serem fruto do seu tempo. As filhas só puderam estudar até à 4ª classe mas sempre foram as melhores do concelho. Um dos filhos veio para Lisboa e fez três anos num acabando por ser economista e o outro apesar de ter sido obrigado a deixar de estudar acabou por, com uma vontade de ferro, ter “aproveitado” para voltar a estudar quando ficou desempregando vindo a tirar um 12º ano com um vinte a matemática e acabando contra tudo e contra todos gestão.
O meu avô, contasse, que também era um construtor exímio de bandolins, carroças, grande produtor de belas laranjas e inventor de árvores que davam de um lado laranjas e do outro limões! Para além disso, recordo-me como se fosse ontem, de o ter visto matar à minha frente uma cobra!
No meio disto tudo foi destruído pelo álcool. Sempre me perguntei porquê. Agora já adulta penso que se calhar era porque gostava simplesmente de ficar bêbado. Mas também acho que o foi porque não poderia ter sido outra coisa. Nasceu e cresceu num tempo e num lugar lixados. Penso, sinceramente, que lhe servia de refúgio contra uma existência demasiado pobre para as suas potencialidades.
Cada pequena vitória que sinto na minha vida banal penso nele. Tal como penso nele em cada bebedeira que apanho na vida....
2 Comentários:
Curti mesmo deste texto... mesmo muito, Parecia um conto do Torga, daqueles mesmo bons!!!
e se eu te disser que, na minha ignóbil ignorância, nunca li nada de torga...
blimunda
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